11.6.08

Por momentos, eternos momentos, o tempo parou. A medula seccionada continuava a despertar um ténue sorriso no meu reflexo. Instinto de sobrevivência. Sempre enganoso. Nós morri, voltei a morrer, uma e outra vez. Será que te lembras de como era o mundo nessa altura? Eu não me lembro. Às vezes, parece que voltei ao início de tudo, quando não existiam outros inícios, apenas desligados impulsos. Isto não é para ti, nem para ti, nem a nenhum deus que possa existir lá em cima, ou cá me baixo, nem para outros não sei o quê. Simplesmente é. E já não sei o que é. E não me importo. O tempo arrasta a poeira. E a poeira inerte desorganiza-se. Os lugares desaparecem. Novas sinapses, novos pedaços de mim, esculturas sempre frágeis. Paro, os músculos estão anérgicos, mas esqueço-me de velocidades etéreas. Os passageiros entram no comboio. Memórias. Amígdalas dilatadas de tanto choro concentrado. Polpas de incipientes receitas. Prazos inacabados. As pessoas, folhas. Invernos acumulados sobre a metamórfica ideia, fim, início, já não sei. O espaço contrai-se a cada unidade de tempo. Relatividade emocional. Augúrios. Marcas de terra no chão de entrada. Cada vez mais esbatido, o mármore. Curioso padrão. Silêncios. Abelhas sempre à procura de mel. Dispersão programada, infantil. Programas de televisão a cada esquina. Cada vez mais pequeno. E eu não sofro com isso. Tenho medo de espaços abertos. Sempre me menti. As palavras começam-me a escapar por entre os olhos. Fim.

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