4.1.09

O tempo é uma faca. Cravada, em direcção a algum órgão vital. Analgesia permanente e alguns fugazes momentos de lucidez em que procuramos um hospital, um curandeiro. Algo que nos tire esta dor, ou nos tire a faca. No fim de contas, apenas queremos alguma morfina, ou até heroína para aliviar a dor. Não temos tempo para cirurgias complicadas. Existe quem crave a faca e não sinta nada. Há quem transforme dor em outras coisas. Há ainda os alquimistas. Existe de tudo neste mundo. E metáforas, algumas ridículas como estas. Mas se não pudermos ser ridículos, de que vale a pena sermos alguma coisa. Precisamos dos extremos. Precisamos de voltar atrás e recuperar o tempo perdido, a alegria perdida, a inocência perdida, as pessoas perdidas, a sabedoria perdida. Precisamos de perder. Precisamos de ganhar. Nem sei o que preciso. Gostava que tivesse sido diferente. Mas para quê? O meu espirito lábil e fugaz faz o que eu quero. Mas às vezes queria que fosse ele a ditar as vontades. Tenho fome. Mas fome a sério, vou comer os cereais e ler qualquer coisa sobre anestésicos. Não foi propositada a metáfora, mas tenho pensado muito nos exames. Enfim, perdi também as palavras bonitas, o conteúdo. Só tenho palavras vazias e nem as sei conjugar de forma harmoniosa. Talvez seja uma posição artística. Tudo é arte hoje em dia. E que me interessa que seja arte ou não. Não vou referir o elemento económico, a necessidade de atenção. Não me interessa simplesmente. Somente me interessa a minha opinião. Ou não. Nem isso sequer interessa. Já não sei o que interessa. Se calhar é isso mesmo. Sinto-me sozinho e preciso de falar para as paredes. Ou até pintá-las. De facto, que saudades de dizer "de facto". Que prazer singelo. Vejam lá a inocuidade deste discurso, o seu desprendimento. É isso mesmo, sou um tipo descomprometido. Não aceito juízos críticos. Sim, é esse o problema das almas lábeis. Têm medo de se comprometer, ganhar forma, ser visíveis. Também não sei o que é mais saudável ou correcto. Não pretendo ser nenhum exemplo de revista. Nunca mais ouvi falar da "Saúde e Lar". Ainda vendem? E tudo isto começou por alguns textos incipientes de uma folha em branco. Em branco não. Com alguns rabiscos inconsequentes. Tudo apagável com borracha do chinês. Hoje, até as páginas estão furadas. Talvez mande tudo para o lixo. Não no sentido em que estão a pensar. E de novo, quem sou eu para pensar no que vocês estão a pensar? No sentido de criar novos paradigmas, novas formas de ser. Nem é bem isso, é redefinir o verbo ser. É chegar ao infinitésimo e ao infinito ao mesmo tempo. É morrer e renascer. Que piroso. Enfim, Estou a ver que não consigo falar para as paredes que elas respondem. Talvez peça áquele programa da sic mulher para vir cá a Portugal. Aquele em que destroem as paredes e reconstroem uma casa para uma família pobre. Sim, sinto-me pobre. Pobre de paredes e tecto. Não é o tecto ser de vidro. Mas está distante, indistinto.

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