25.1.09

Uma bolha insuportável. Um ecossistema autosustentável à beira do colapso psíquico. Pequenas fissuras permitiam a equalização das pressões. Pequenos aquecedores aqueciam o ar que saía das fissuras, um sardónico aviso da abundância que inundava o pequeno volume daquela bolha. Inúmeras pessoas habitavam aquele pedaço de ar e de terra, algumas imaginadas, algumas não contabilizadas, esquecidas na apatia da inércia. Todos sofriam de retinite pigmentosa. Uma misteriosa maleita do espírito, que fechava cada vez mais a bolha em si. Dentro dessa bolha imaginava-se o exterior, mas era intangível, separado por um oceano de fadiga. Tudo o que se permitia era a possibilidade, um esboço, uma tentativa. De certa forma, não viviam, arrastavam-se, comiam, bebiam, respiravam, um desperdício de sinapses, de vida, de espaço. É não viver, no sentido cinético da palavra. Prefiro morrer a caminho, mesmo que o caminho seja estar parado, à deriva. Preferível que fechar os olhos. Enfim, mesmo eu sinto a gravidade acelerada com o tempo passado nesta bolha, neste sol estéril e inócuo e nostálgico. Cravo facas que apenas inflamam, não cortam, não abrem caminho. Uma cobra gigantesca a reclamar os meus pulmões. Cada vez menos espaço, menos espaço, uma estrela a morrer, enquanto eu nascia, crescia. Paradoxo de espaço, forças contrárias. Como se tivesse duas forças em sentidos opostos que anulam tudo o que faça. Se fossem em direcções diferentes pelo menos teria algum espaço de manobra. O ar cada vez mais rarefeito, outra contradição, uma excepção emocional às regras da química.

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