20.5.09

O que significa estar aqui? É preciso ser esventrado por dentro, ou é possível mimetizar toda a mecânica existencial com um laboratório neuroquímico. Corro, corro, algumas endorfinas, algum contexto. Silogismos biológicos. A tarde quente continua surreal, um destilado onírico que entranha o vazio em mim.
Aqueles espasmos emocionais já não surgem facilmente. O basal tornou-se utópico. O amor tornou-se objecto de estudo.
Ferrar os dentes numa maçã. Ferrar os dentes numa maçã. Ferrar os dentes numa maçã. É preciso fugir da tarde inexorável. Despirmo-nos da rotina mortificante. Um cilício sociológico, politicamente correcto. A morte é preferível à morte, pelo menos acarreta alguma vida.
Não te desejo.
Não te desejo.
Já não te vejo.
Falta ensejo.
Nas noites lembro-me de como era antes. Antes das amarras. Lembro-me da volatilidade. E percebo que é tudo fácil. Basta entender a vida como uma guerra. Morrer por um ideal. Sim, é preciso ser um bom soldado. Ter um ideal. Faltam os ideais. Falta a morte. Falta a destruição. A morte é necessária.
Cada vez percebo mais a liberdade. Cada coisa que perde o sentido é espaço para uma perna.
Pensas demasiado. Não é esse o meu problema. O meu problema é de natureza moral. Penso demasiado nos certos e errados, nos planos estratégicos, nas consequências internacionais e quânticas.
Não interessa. Pó.
Pó.
Pó.
Apenas queria os teus lábios. Ser fútil e porque não? Porquê fútil? Porquê incipiente?
Porquê?
As aparências fazem-me sentir bem. Uma música adequada ressoa.
As relações são plásticas. Sabes que nunca aprendi a confiar.
E por isso, só vos confio isto. Tudo o resto, todas as cores ficam guardadas. Talvez já estejam desbotadas. Ficam com uma fracção electromagnética. Talvez a menos agradável. A mais difusa, a mais confusa, a mais fractal.
A caminha quentinha. Gosto de pensar que escolho os meus sonhos. Adoro perder o controlo. Se pudesse dormir todo o dia. Não sei o que escolheria. Tudo é verdade para mim. Aliás, as pessoas atribuem valor a coisas que não entendem.

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