26.12.10

O Sol de Lisboa na manhã de domingo. As sombras nos prédios vazios, as folhas que caem ainda verdes e o ar frio.

Vou correr, esticar as pernas, inspirar o ar fresco e agressivo.

Abraçar o silêncio e amar as moléculas gasosas, os pequenos roedores fugidios, as correntes de convexão, os teus braços. Tenho medo de me perder. Expira, expira com mais força. Despacha-te, vai tomar banho, o teu cabelo está oleoso, cansado, ansioso pelo começo do dia.

Quero-te aqui. Quero dar-te algo. Serei capaz? Acho que sim, mas só nos dias de sol. O tempo é instável, eu sou leve. Preciso de comer, engordar.

O céu é tão azul, a relva tão verde. Sim, prefiro a Primavera fria.

Não pares, mas não te forces. Ser é fazer, tens razão.

A sinusite é o único pensamento craniano, neste momento. De resto, oiço a música do nosso amor, dos bons momentos antes da vertigem do Real. Sim, é violência.

Já não sei o que quero. Sempre me revi nos desejos dos outros. Tudo acabou, o melhor será correr, tomar banho, ler, regar as plantas e falar contigo. E deixar as rotinas emocionais de lado. Quero novas sensações, novos sentimentos, novas relações. Quero estar contigo. Quero estar comigo. Quero abrir os olhos, quero abrir as mãos, dar-te uma flor, rasgar o ar.

Quero abraçar-te e largar-te em seguida, mas no bom sentido da palavra. Quero abraçar o mundo inanimado e animado. A alegria pueril fugiu no mês de Fevereiro. Tudo surge-me forçado. Se correres com a rapidez adequada irás perceber que podes anteceder as expectativas doentias. Tu morreste na civilização, na obrigatoriedade. Que renasças na proibição, na tentação. É preciso ser irresponsável.

Talvez fluísse com a beleza do ar silencioso e cortante desta manhã se tivesse tomado banho. Ensaboado as axilas e os cordões de cabelo, pensado o novo dia de olhos fechados e húmidos de água clorada.

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