São pequenas flutuações. Incompreensíveis. As portas começam a fechar-se. E retorna-se para nunca mais voltar. A dopamina diminui. O tempo avança exponencialmente, após um momento de silêncio. O estatismo morre. Esqueci-me. De certa forma, seria impossível manter tudo. As mãos deixam passar grãos de areia. Inevitável. As feições ganham rugas, as circunvulações ganham rugas, os olhos ganham rugas. Continuo a ser estesicamente visceral. Gostava de ser mais emocional. As ruas ainda me dão vertigens. Mas acho que sempre me deram. Músicas que se repetem e se tornam espaços, pessoas, personalidades, mundos, que englobam tudo até o silêncio.
Ultimamente tenho-me esvaído em sonhos. Esgoto-me totalmente. A coexistência de diversas instâncias. Daqui a alguns minutos estarei completamente esvaído. Completamente esvaído de mim, de ti, e ao mesmo tempo completamente incluso em mim e em ti. Em planos adjacentes, complacentes, fervilhantes e surreais. E tudo faz tão sentido, finalmente. Coisas desprovidas de elevada resolução, apenas pedaços, fragmentos, sem parar.
E o que quero dizer com isto?
Queria dizer algo, mas não consigo. É difícil atravessar a ponte. É a vertigem somente. De resto, não é lógico. Mas se correr demasiado rápido nem tenho consciência. Talvez faça uma corrida. Tem de ser. O tempo corre cada vez mais rápido. É da idade, dizem eles.
O Sol atravessado pelo vento está desagradável. O barulho das obras não me deixa perder a consciência. Adoro o efeito ansiolítico do sol. Adoro os seus raios sorridentes. Adoro o sorriso que transparece nos desenhos do infantário. Quem é ele?
O metro. O metro. Ouvindo música no metro. Inconsciente de olhos abertos. O coração não pára de bater, bolas.
Talvez amanhã vá a um jantar, a um concerto, mais outro, mais outro. E depois, já viste aquela exposição? Vamos almoçar juntos. Tenho saudades tuas. Amo-te. Não sejas ridículo. Convida-o também. Não sejas assim. Sim, nunca tinha ido a esse restaurante. É óptimo, mas um pouco caro. Espera. Ah! Não te vi. Bom dia. Que ar é esse? Nunca me convidam, seus marotos.
Os dias passam rapidamente. Desbotados, aquele verde escuro.
Os dias passam.
As horas passam.
E nada realmente muda.
2 comentários:
os termos tecnicos (que estao muito bem aplicados) perdem um pouco ao texto, na minha opinião, que está fluente, veloz, como um pensamento disparado. Muito bom texto.
Abraços
É que às vezes apetece-me escrever sem ter nada para dizer e sai isto.
abracito
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