13.3.09

sentado, ouvindo música. O céu azul, sol ausente. Carros a passar, iluminando a estrada. Árvores esguias, despidas. Pedras de calçada. Prédios por construir misturados com prédios velhos. Rosa, tijolo, branco, cinzento, granulado. Uma nuvem? Não, ilusão. Estás demasiado cansado. Uma pessoa com um saco branco, calças de ganga, casaco preto. Um carro sai, espera, ia ceder a passagem. É uma saída de uma propriedade. Quem tem razão? Estou calmo e cansado. As luzes começam a acender-se. Duas pessoas, mais não me permitem as dioptrias. Lembro-me daquele terraço, um lago simpático. O sabor do gin. E uma papa cerelac quando chegar a casa. Sim, para combater a hipoglicémia. Hoje não me apetece ir ao cinema. Queria deitar-me, enroscar-me, parar de pensar por momentos. Precisava de começar de novo, de voltar atrás. Sinto-me um fósforo usado. Outro carro, outro. Cada vez mais rápidos. Talvez porque é mais escuro. Bem, pelo menos já há iluminação na rua. Os assaltos. Nesta zona costumam ocorrer muitos. E daqueles violentos, que surgem nos jornais. As construções deixam tanta poeira e barulho, envelhecem tudo e todos, como um parto traumático. Neste caso, trata-se de um prematuro. Algum surfactante. Espero que não venha nenhum terramoto. Está mais escuro. Cada vez mais escuro. Oiço Broken Social Scene. Não me farto de ouvi-los. Não tenho coragem de ouvir o novo album dos metric. É a minha banda favorita e acho que me vou desiludir. Gosto muito da vocalista e sei que lhe faz bem não escrever letras complexas, que está a simplificar a vida, faz muito bem. Não sei. Não quero pensar nisso agora. Demasiadas músicas. Demasiada informação para processar. Se calhar processo da forma errada. Talvez. Devia fruir de forma diferente as coisas. Tanto sentido crítico. Está ainda mais escuro. Esperava que tivessem ligado mais luzes, mas ainda não ligaram. O que é aquilo ali em baixo? Um café? Podia levantar-me, aproximar-me da janela, mas tenho preguiça e dói-me a cabeça. Malditas dioptrias. Bem, pelo menos tenho olhos grandes e bonitos, como diz a minha avó. Que saudades. Apetecia-me passar um dia na praia com ela. Passar umas férias inteiras com ela. Quando era miúdo passava. Gostava muito, entendíamo-nos perfeitamente. Hoje o silêncio desapareceu. As coisas mudam. As relações também. "Used to be one of the rotten ones and I like you for that" canta a Emily Haines. Tem uma voz tão gira nesta música. Não mandam mensagem. Talvez a aula se tenha prolongado. Apetecia-me ser pequeno e abraçar a minha avó. Qualquer dia tenho de colocar de parte a associação livre. Mas torna tudo tão mais fácil. Amanhã vou acordar cedo, apanhar o transporte para a terrinha. Espero adormecer na viagem. Adoro adormecer em autocarros. Especialmente de manhã cedo. Bem, tenho de ir andando...

2 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Os amigos são aqueles que podemos acordar às 4h da manhã... Tao bem escrito... Identifiquei-me em muita coisa. Para a próxima lembra-te disso.

Heartbeats disse...

=) só consigo escrever bem quando perco o medo de cair.

abraço