17.5.10

Queria forçar-me o mundo,
Tornar o presente tangível, desagregado nos odores, nos fotões frios que me celebram. Ser a cor, ser o som, ser a decisão. A decisão totalmente palpável de perder as estratégias entranhadas em milhares civilizacionais, ocupacionais, de ser um vector. O vector visceral, mas igualmente humano.

Decidi não decidir, desta vez. Explosões infinitesimais. Sem efeitos causais.
Mas desisti. É o movimento de translação, de rotação, as estações e os dias que se sucedem e vão-te amarelecendo, dando frutos. A Primavera acabou, mas os pássaros continuam perdidos e cantam a alegria e a mágoa sem sentido. O caçador é breve. A carne vai alimentar famílias, destilar conforto.

Dizem-me que é um fluxo, que são brisas, turbulências. Isso soa-me a nadas. Não sei se a sou suficientemente forte para me mover no vento.

Inicio agora a expiração. Abro os olhos. Basta ouvir o silêncio para ver os meus cortinados de cores antigas, virtuosos. Um tabuleiro com um prato sujo, papéis, livros, muitos livros. Um arrepio que atravessa a espinha. Finalmente, oiço um silêncio ensurdecedor, a existência mostra-se na sua ultraviolência. Apenas por segundos, um anjo que provoca a morte, que a desafia.

Falta-me beber um copo de água.

Bocejo.

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