28.10.10

O Estudante de Medicina

E ele pensou na frase que lhe tinha surgido na mente de modo tão pueril “porquê escrever sobre os outros se sou eu quem quero possuir”. A sua mente espreguiçava-se, deleitada, sobre a sensualidade dessa ideia, sobre a recusa, sobre a noite. Era de noite, percorria a Avenida da Liberdade, pontapeava folhas.
Hoje pensava sobre si enquanto narrador, terceiras pessoas de terceiras pessoas. Pensou no poema que o outro tinha escrito. Um poema belo, sincero e simples, mas desprovido de violência. Era somente um respirar lento e profundo, rítmico. Ele queria sufocar. Sufocar. Sufocar. Alterar as cores do céu, perder os sentidos e renascer, finalmente.
O peito agitava-se em correntes de valsalva. Paralisado e sem parar. Os olhos reviravam-se e via. Finalmente via.
Explosões de conceitos, de atitudes, de pessoas, percorriam-lhe a cabeça. Exagero nauseante. Era demasiado. E corria. Corria, foi repentino. Não sabe porquê. Tinha visto um filme. Somente um filme. Um filme de cinema, um filme francês.
Agora, criada a destruição, queria destruir a criação. Queria o nada, mas claro que o nada provém do tudo. Tinha de ser paciente. Paciente. Não se diz paciente, é doente!

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