4.12.08

Um sonho adocicado

(René Magritte. The Lost Jockey. 1948. Gouache on paper. 50 x 84 cm. Private collection.)

Foi um sonho, a vanguarda da despersonalização, a extrapersonalização. Nem sei quem fui nessa noite. Nunca tinha fingido tanto na minha vida.
Nunca chorei, apenas tremia. Odores adocicados, opióides e nicotinas, nada resolvia esse tremor. Umas incipientes risotas. Nada de extraordinário.
Nunca chorei, apenas um tremor das pernas, "merda, elas não param de tremer".
Mesmo depois, nem sorri muito, ria-me somente, tudo parecia tão ridículo.
Não sei o que fazer.
"merda, elas não param de tremer".
Obrigado pelas desculpas. Obrigado pela mãozinha na perna.
Sei que é normal. Sei que acontece todos os dias. Que eu devia ir à minha vida e esquecer isto tudo.
Não queria ir-me abaixo, fica descansado.
Tu eras o mais estranho, o que querias? O que querias de mim? Sim, tens um refluxo gastro-esofágico. Vai comprar os ténis e cala-te. Que queres? Sexo? Ainda bem que me fui embora.
Sei que foi uma experiência única apesar de tudo. Os benefícios em termos motivacionais, budistas e recreativos foram imensos. Mas, "merda, elas não param de tremer". "merda, elas não param de tremer". "merda, elas não param de tremer"."merda, elas não param de tremer". "merda, elas não param de tremer". "merda, elas não param de tremer". "merda, elas não param de tremer". "merda, elas não param de tremer". "merda, elas não param de tremer".
Posso chorar? Posso ir-me abaixo?
As minhas feições alteraram-se. Envelheci.
Já nem sonho com o impossível.
E ninguém é capaz de me ouvir. Queria que ouvissem com atenção os meus silêncios. Mas eles não sabem lidar com isso. Eu não seria.
Queria esquecer. Sei que não foi propriamente um campo de concentração. Enfim, nunca percebi essa comparação. Nem outras comparações do género que insistes em fazer. Como podes hierarquizar as coisas que acontecem desse modo? A realidade é muito mais complexa que um jogo de mais e menos. E que interessa o que os outros sofreram, se levaram um tiro na testa ou viram os filhos a morrer? Isso não me vai fazer mais feliz, tal como aposto que não te faz levantar as comissuras labiais, nas manhãs de inverno. Sei que tenho sorte. Sei que tive sorte. Mas a sorte não me alimenta a alma.
Talvez o melhor seja parar de escrever. Parar de ler. Parar de pensar. Desligar os sentidos. Simplesmente esquecer e aproveitar para querer. Há muito tempo que me esqueci do prazer de simplesmente desejar algo. E por algumas semanas permaneci hipermnésico. Por algumas semanas, deixei de ver e passei a ouvir coisas que nunca tivera ouvido. E tudo o que nasce morre, ou enterra-se.
Por isso mesmo, penso eu.
Talvez precise de me lembrar. Talvez ela tenha razão afinal de contas. Mas claro que é preciso aplicar outro significado. Não uma questão de sorte, mas antes uma questão de clarificar o verdadeiro significado do tempo.

2 comentários:

Zlati disse...

E eu a pensar que já tinhas parado de ecrever no blog há muito....Foi uma surpresa agradável!!:)beijo

Heartbeats disse...

=) buenas noches chica!

Decidi que o blog precisava de um ar mais natalício. Este ano n tenho árvore de natal, mas pelo menos, tenho um pinheiro no blog lol

De resto, sabe bem desabafar, escrevinhar, ter devarios, sem obrigações... Qd apetece.

E a menina, que tem feito?

beijinhos